26 de maio de 2011

O que não sabemos pode nos ferir

Por Ma Prem Zaki

As palavras não podem transmitir de modo preciso a angústia ou a dor que uma pessoa está experienciando. Nossas informações sobre conduta moral ou formas adequadas de comportamentos e escolhas não chegam, nem de perto, da forma certa de que um ser humano deve agir. Pois, a história de cada um é única, assim como sua dor e sua forma escolhida, aprendida e acreditada de auto-proteção.

Dentro de cada um de nós existe um registro muito pessoal de dor e uma forma singular de se proteger dela. Isso acontece de uma forma tão automática que muitas vezes não é percebido nem questionado por nós. É apenas uma reação. É que não sabemos o que está por trás desta dor, o que nos faz reagir, nem em que acreditamos. Simplesmente sentimos e reagimos.

Quanto mais não sabemos, mais estragos fazemos em nossas vidas, nas relações com as pessoas que amamos, nas nossas relações com o trabalho, enfim, em todas as nossas escolhas. E só iremos, de fato, nos perguntar o que está havendo quando o estrago tiver nos causado uma dor insuportável.

Quem somos? O que queremos? Por que queremos? Do que temos medo? Por que temos medo? Estes medos são meus de fato? Quais são as nossas crenças? Será que são elas que nos fazem seguir nos defendendo tanto? O que eu penso acreditar é de fato real? Quais são as minhas feridas? Eu as curei? Eu as perdoei?

Se não sabemos estas respostas com segurança, nos ferimos porque não sabemos quem somos, o que queremos e porque queremos. Saber lidar com os medos sem precisar ferir ou fugir da vida, não é uma questão de filosofia ou palavras bonitas, é uma questão de vida!

Cada um de nós precisa encontrar e criar suas raízes. Este encontro é um processo natural que pode ser acessado pela consciência interna do corpo. O corpo tem esta sabedoria interna de cura. Somos nós que, pela comodidade, escolhemos ignorar este recurso inato e passamos a depender de relações afetivas doentias, falsas estabilidades financeiras, álcool, drogas, remédios, trabalho etc. Escolhemos aceitar essa solução sem perceber que estamos desistindo de partes importantes de nós mesmos.

Talvez nem percebamos que estamos fazendo essa escolha. Entrar em contato com nossas fragilidades, dores ou medo e nos permitir sentir ameaçados evoca nossos recursos mais profundos e nos permite experienciar nosso potencial mais pleno. Nossos traumas nos deram poucas oportunidades para usar essa capacidade. Porém, nossa sobrevivência plena depende cada vez mais dessa habilidade de pensar e sentir individualmente, em vez de responder física e automaticamente. Por toda esta comodidade, útil apenas para mascarar a nossa inadequação, medos, frustrações e solidão, a maioria de nós se distanciou de nosso ser instintivo e natural, mais especificamente daquela parte que chamamos de animal, intuitiva, ou seja, da nossa essência.

Encarar nossos desafios, portanto, faz com que permaneçamos saudáveis. Quando isso não acontece ou quando somos desafiados e não podemos triunfar, acabamos sem vitalidade e incapazes de nos engajar de modo pleno na vida. Não falo de desafios do ego. Mas daqueles vindos dos nossos medos, solidões, inadequações e controles que nos colocam escravos dos outros e de todas as coisas que nos apresentam como boas e necessárias, às custas da nossa espontaneidade e alegria.

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